Friday, December 30, 2011

Quotidiano IV - Fair enough



Passear naquele paredão em dias de sóis gelados e olhar aqueles bancos vazios, lembra-me quando estavas lá sentado a olhar-me e eu observar-nos. Enchias-me o tempo, quando não existiam horas. Hoje, quando me sentei naquele banco de pedra fria e fechei os olhos, vi-te, de novo. Estavas dentro de mim. Juro-te que não quis entrar na tua vida sentada, nem de maneira nenhuma. Não esperava que tal acontecesse, a vida tem destas surpresas. Nesse dia vi-te pela primeira vez e a partir desse momento tudo se passou muito rapidamente. Não tive tempo para responder aos meus medos e hoje cada vez que vou à varanda perco-me a ver imagens nossas. Do primeiro 'gosto de ti' sincero, da primeira vez que demos as mãos, dos abraços dados em dias gelados, do teu sorriso apreensivo à chuva, do cheiro do teu perfume espalhado por onde quer que passe. Mesmo quando não acredito no que está acontecer, oiço-me a falar contigo na tua ausência. Agora é mais sério. Não tenho como disfarçar a falta que me fazes. No medo que tenho de te perder. Mesmo quando acho que nunca é tarde, nem será. Pareço insano, não parece? Demente, absurdo, incompreensível, alienado até para mim mesma. Como terá acontecido? Porque tu, porque eu, porque nós? Não sei . . . Era suposto desenlaçarmos as mãos sem desassossegos grandes, sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz...
 Não quero olhar para trás e ver-te ausente. Não quero. Nem posso fazer isso comigo. Pedi-te para confiares, no entanto sou eu quem perde diariamente as esperanças. Não te peço para seres quem não és, demonstrares o que não sentes, jamais o faria. Embora o deseje por vezes, confesso. Sempre prezámos pela honestidade e apesar de tudo, continuará a ser palavra de ordem entre nós. 
Darei tempo ao tempo para resolver tudo por mim, como o tem feito até agora. "O tempo tem o tempo que nós quisermos que o tempo tenha". E se um dia partires por isso, ficarei em paz comigo mesma pois sei que não me acobardei e muito menos tentei negar o inegável. 
Só te peço quando fores, deixa explícito. Os sonhos acabam quando se acorda, de uma vez por todas. Pode ser que a distância e a ausência me reconfortem. 


 "Façam o Favor de Ser Felizes"- Raul Solnado

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